Nasci no interior da Bahia e fui fruto de um lar bastante humilde, mas muito rico em amor. Ainda criança, abdiquei de uma infância com brinquedos e estudos para poder cuidar dos meus irmãos mais novos. Como filho mais velho, antes de completar os meus 12 anos, iniciei minha labuta pela sobrevivência, trabalhando em uma fazenda para ajudar a minha mãe com a “feira da semana”. No período de seca, eu me desdobrava cortando sisal com a minha mãe para auxiliar no sustento da casa. Nos finais de semana, armava e desarmava as barraquinhas da feira da cidade e durante o funcionamento da feira aproveitava para engraxar sapatos e ganhar um trocado.
Além disso, eu andava uma distância de mais de 8km para buscar o jegue que botava água nos carotes e levava até a casa das pessoas da cidade, já que não existia água encanada na época. Lembro bem que em algumas noites eu também ia pescar para garantir o alimento da família. Devido a essa intensa rotina para um garoto com menos de 15 anos e a constante exposição dentro d’água, acabei contraindo o início de pneumonia que me trouxe complicações de saúde na época e deixou a minha família em difícil situação, já que eram os meus “corres” e o da minha amada mãe que seguravam a barra dentro de casa. Fui curado graças a sabedoria popular e a fé da minha rainha que sempre intercedeu por mim através das orações.
Com 16 anos parti para Salvador com fé e coragem e fui vender cafezinho nas ruas dessa cidade que me acolheu. Fiz dessa atividade um meio de sobrevivência até os meus 18 anos, quando pude tirar os documentos para enfim ter o meu primeiro emprego de carteira assinada, no Moinho Salvador. Vendendo cafezinho, acompanhei admirado as ações dos movimentos sociais em prol de justiça social nos anos 80 e me interessei pela vibração dos companheiros que saíam às ruas para lutar pela transformação do país e trazer dignidade para a classe trabalhadora. Dentro da Indústria, fui à luta com os companheiros e participei dos movimentos grevistas dos anos 90 devido aos arrochos promovidos pelo governo Collor. Enfrentamos uma greve de mais de 20 dias em que saímos vitoriosos, mas paguei o preço da demissão por estar à frente do movimento.
Não baixei a cabeça! Voltei para as ruas e fui vender cachorro-quente para garantir a sobrevivência. Contudo, vi a possibilidade de recolocação no mercado de trabalho através do sistema de transporte rodoviário. Fiz testes nas empresas da época (Campo Grande, Liberdade e Ogunjá) e graças a minha fé, fui contratado pela Campo Grande e iniciei a minha trajetória nessa categoria especial que tanto amo como cobrador de ônibus. Nas horas vagas eu aproveitava para vender picolé nas praias e assim completar a renda para sustentar a família que já contava com 3 filhos. Comecei a me destacar pela atuação em defesa dos colegas e me lancei candidato na CIPA, o que resultou em vitórias expressivas sempre como o mais votado do sistema rodoviário. Minha militância política me aproximou daquele que seria um dos responsáveis pelo fortalecimento da categoria rodoviária da Bahia, Paulo Colombiano.
Militando na antiga Corrente Sindical Classista, hoje CTB, tive participação ativa nas lutas pela saúde do trabalhador rodoviário e em defesa dos direitos da categoria. O meu desempenho me trouxe até a direção do Sindicato para me empenhar pelos trabalhadores na vanguarda da luta. Com muito orgulho, hoje estou presidente do Sindicato dos Rodoviários do Estado da Bahia, atuo como Secretário Geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística, estou como Secretário Geral da Federação do Nordeste dos Trabalhadores Transportes Terrestre, e, pelo segundo mandato, também estou Vereador de Salvador, terceira maior capital do Brasil.
Diariamente tenho colocado a mesma força de vontade que tive quando criança para lutar por essa categoria. Tenho no meu histórico a marca da luta e da resistência. Essas são duas características que me motivam a seguir trabalhando firme para melhor servir a cidade que me acolheu e principalmente a categoria que tanto amo. Continuarei aguerrido para batalhar por mais conquistas para nossa categoria e por uma sociedade mais justa.
Juntos Somos Mais Fortes!
Helio Ferreira.